Muito além da contribuição com a renda familiar, a participação feminina no mercado de trabalho vem conquistando, ano a ano, novos espaços. Hoje, a mulher luta por seus sonhos e desafia setores que, até pouco tempo, eram ocupados exclusivamente pelos homens. Em Santa Maria, elas conquistaram vagas em praticamente todas as áreas, atuando, inclusive, como taxistas, mecânicas de aeronaves e bombeiras. Segundo dados do Ministério do Trabalho, o último levantamento da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), feito em 2016, aponta que a mulher responde por 44% dos postos de trabalho, contra 56% dos homens.
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Ao assumir diferentes funções, a mulher amplia sua contribuição com o desenvolvimento econômico e social do município. Seja como empreendedora, autônoma ou funcionária, a profissional tem papel relevante nas organizações e na sociedade, mas ainda precisa provar seu valor e sua competência para garantir seu lugar no mercado. Basta verificar o número de mulheres que ocupam cargos de chefia, que sejam dirigentes e lideranças em suas categorias. Na área empresarial, por exemplo, apenas uma empresária está à frente de uma das várias entidades existentes no município.
Mas essa diferença não impede que novos desafios sejam encarados. No Dia Internacional da Mulher, o Diário traz, neste e na página seguinte, histórias de mulheres que apostaram na sua vocação, no seu sonho e na sua vontade de fazer a diferença.
Foto: Lucas Amorelli (Diário)
Fabiane é taxista há uma década
Fabiane atende pelo prefixo 182
Na contramão da realidade de alguns países, como a Arábia Saudita, que somente a partir de junho deste ano, irá permitir que mulheres dirijam, Fabiane Rossi Inácio de Camargo, 37 anos, ostenta orgulhosa a profissão de taxista em Santa Maria. O município conta com 325 táxis e Ela figura entre as cerca de 10 mulheres que trabalham nesta profissão, predominantemente masculina, na cidade.
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A motorista não esquece uma tarde de 1999 quando recebeu a notícia de que estava apta a dirigir. Mais que a habilitação, o cotidiano junto ao volante se tronaria a profissão da mulher, que, há uma década, percorre as ruas de Santa Maria identificada pelo carro de prefixo 182 .
_ Quando passei fiquei bem emocionada, não imaginava que passaria na prova de direção de primeira. Lembro que fiz a prova (prática) em um Palio branco e, na época, a carteira de habilitação era feita pelo Senac. Sou filha e neta de taxista e estou há 10 anos na profissão. Só parei um ano quando minha filha nasceu _ conta.
No dia a dia, o retorno dos clientes é, na maioria das vezes, gratificante. Nos anos de profissão tem clientes fixas, além de respeito e fortes laços de amizade com os colegas de trabalho:
_ Esse campo (táxi) também é nosso, todos devem ser e estamos conquistando outros espaços por direito. Anos atrás até ouvia algumas piadinhas de motorista mulher, mas isso já passou. O comum é se surpreenderem e falarem: é a primeira taxista que ando. Nunca fui assaltada e me perguntam bastante se não tenho medo, mas medo a gente tem em qualquer lugar e qualquer profissão, né?
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Conforme dados do Detran-RS, as habilitações para mulheres têm crescido nos últimos anos. Atualmente são 1.664,806 condutoras do gênero feminino no estado, representando 34% do total de condutores habilitados. Em 2012, as mulheres representavam 31%.
Foto: Carmen Xavier (Diário)
Estéfani (à dir.) e Kelly são sargentos especialistas da Aeronáutica
Estéfani trocou a medicina pela mecânica de aeronaves
Quando veio para Santa Maria fazer cursinho, com o objetivo de tentar uma vaga no curso de Medicina, Francieli Estéfani Robaert Neves da Silva não imaginava que sua vida fosse tomar outro rumo. Ainda nas salas de aula, conheceu colegas que estavam estudando para concursos da Força Aérea Brasileira (FAB). Ficou curiosa e resolveu que também iria tentar uma vaga na primeira turma mista que a Escola de Especialistas da Aeronáutica (Eear), que fica em Guaratinguetá, em São Paulo, estava criando. Em 2002, aos 18 anos, foi aprovada. Deixou a família e amigos para encarar o desafio de ingressar na carreira militar, justamente na primeira oportunidade aberta às mulheres.
Em 2003, após a conclusão do curso de formação de sargentos, como especialista em elétrica e instrumentos de aeronaves, foi designada para trabalhar na Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga, também em São Paulo, aos 19 anos. Ela diz que esse foi o momento mais complicado da sua vida pessoal e profissional.
_ A exigência era muito grande. Tinha que provar, para mim mesma e aos outros, que eu merecia estar ali. Era a pressão de fazer parte da primeira turma de mulheres especialistas. Também foi uma fase em que cresci muito pessoalmente, pois, aos 19 anos, tive que aprender a montar uma casa, a fazer compras, a administrar minhas contas _ relembra Estéfani.
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Em 2008, a sargento foi transferida para a Ala-4, em Santa Maria, onde o processo foi mais tranquilo, pois já tinha experiência e não era mais uma novata.
Hoje, atua como inspetora de manutenção, sendo responsável pelo planejamento e controle da manutenção das aeronaves, principalmente dos AMX e Caravan. Aos 34 anos, casada com o também sargento André Inácio Neves da Silva, 29 anos, e grávida do primeiro filho, Estéfani sente orgulho da decisão que tomou há 16 anos. E ainda tem planos para a carreira, como tentar uma vaga para trabalhar no Exterior.
_ A mulher precisa correr atrás de seus sonhos, estudar para crescer na área em que atua. A vida é um constante aprendizado, só temos que fazer a nossa parte. Tem que ter amor e dedicação à carreira, independente qual seja a profissão _ conclui a sargento, que atualmente conta com a companhia da sargento Kelly da Rocha Dias, 26 anos, que se formou na Eear há 1 ano e 8 meses.
Foto: Carmen Xavier (Diário)
Rutiele venceu os próprios limites para ser bombeira
Ser bombeira surgiu como desafio pessoal para Rutiele
Em setembro do ano passado, ao formar-se como bombeira civil, Rutiele Sodete Cabreira Kettes, 26 anos, dava um novo destino à sua vida profissional. Há pouco mais de um ano, ela resolveu vencer os próprios desafios e limites pessoais, como medo de altura, e buscar mais conhecimento. Rutiele viu essa oportunidade no curso de Técnico em Enfermagem, que segue frequentando e que deverá ser concluído em 2019, ao saber da capacitação para ser bombeira civil.
Com um filho, Murilo, de 2 anos e 6 meses, ela apostou nessa profissão para ampliar as opções de trabalho.
_ Além de superar meus medos, eu tinha curiosidade de saber como funcionava. Agora, pretendo aliar o conhecimento de bombeira e da área de enfermagem para me firmar nessa profissão _ conta Rutiele, ressaltando que o mercado de trabalho ainda é restrito, mas espera que tenha crescimento nos próximos meses.
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Ela relata que, no início, sua mãe ficou contrariada ao saber da opção pela profissão, mas, depois, apoiou a decisão. Segundo a bombeira, ninguém da família tinha atuado nessa área até então.
Ao participar do curso para bombeira, ela diz que se surpreendeu com o processo de formação, pois tinha outra visão a respeito da participação feminina em treinamentos como esse.
Como bombeira civil, ela atua, principalmente, em eventos em toda a região, e conta que é bem recebida por colegas e contratantes do serviço de bombeiro. Muitos organizadores de eventos, segundo Rutiele, apontam que a presença de uma bombeira dá mais segurança aos usuários, principalmente o público feminino.
A bombeira tem planos de fazer outros cursos na área, principalmente envolvendo a atuação em resgates. Para as mulheres que têm curiosidade e interesse na profissão, ela ressalta:
_ É preciso que mais mulheres sejam bombeiras, sejam civis ou militares. É uma forma de dar nossa contribuição, de aprender sempre e de ajudar as outras pessoas.